Repensando a Experiência do Profissional em Um Novo Ambiente de Trabalho

Como sempre, os tempos mudam! Os impactos decorrentes da pandemia transformaram profundamente a forma e o local onde o trabalho é realizado. A tão propalada importância da experiência do empregado no seu ambiente de trabalho precisa ser repensada porque a diminuição de sua presença física no local e a adoção de novas tecnologias trazem ao assunto novas perspectivas.

Apesar da grande dúvida no início do afastamento social, o home office foi para as organizações um grande ganho! Elas aprenderam que ele pode ser benéfico em certas circunstâncias e pretendem continuar com esta prática e reduzir os espaços físicos antes utilizados para abrigar pessoas.

No entanto, o deslocamento das pessoas para suas casas traz novos desafios para manter a organização atraente. Nesse sentido, as empresas que desejam ser as preferidas para se trabalhar devem iniciar rapidamente o seu projeto de transformação de seu ambiente, cuidando para que o seu modelo contemple, no mínimo, os seguintes temas:

  • Essência – do ponto de vista de encontrar a própria essência da vida, o empregado fará uma parte desta jornada por conta própria. Isto significa que ele precisará, diligentemente, se autoconhecer para identificar os bloqueios existentes em sua vida que impedem o seu progresso pessoal. Como o RH pode ajudar o empregado no seu autodesenvolvimento?

 

  • Agilidade – os métodos ágeis de desenvolvimento de soluções tendem a continuar sendo utilizados em pequenos grupos de trabalho ou equipes de projetos. Do ponto de vista do trabalho remoto os métodos ágeis deverão ser redesenhados para permitir que as pessoas criem squads virtuais e através deles possam trabalhar na busca de novas ideias e soluções. Como o RH pode criar grupos virtuais de desenvolvimento de soluções adotando métodos ágeis de trabalho?

 

  • Perspectiva organizacional – a distribuição de papéis e responsabilidades e o fluxo das atividades e tarefas devem ser recalibradas para atender as estratégias organizacionais a partir de uma dinâmica organizacional que privilegie a qualidade e velocidade na tomada de decisões; a formação de pequenos times experientes e multifuncionais, com alta autonomia de decisão e ação estratégica; presença de times multifuncionais de apoio à estratégia e ao cliente além do apoio à própria manutenção do negócio. Como o RH pode colaborar no redesenho do modelo de negócio e estrutura organizacional?

 

  • Trabalho flexível – Com o acréscimo das experiências recentes em home office, incrementar o uso do trabalho flexível na organização, seja em termos de ganhar tempo (schedule) ou aproveitar o local onde se está (home office) tendo como principal objetivo a otimização dos recursos disponíveis, bem como solidificar aprendizados e moldar uma cultura de presença ativa. Como o RH pode tornar o trabalho flexível em uma alavanca de produtividade?

 

  • Relacionamento apreciativos – Muito da efetividade dos relacionamentos vem da proximidade que as pessoas têm entre si e das trocas que elas fazem durante os momentos em que estão trabalhando juntas. Com o uso do trabalho flexível e do home office, este convívio mais estreito deixará de existir ou no mínimo será reduzido. Este distanciamento entre as pessoas deverá ser compensado por iniciativas que lhes propiciem a troca de ideias e mesmo a oportunidade de se verem. Como o RH vai permitir um convívio entre as pessoas de modo que lhes tragam oportunidades de se relacionarem de forma apreciativa?

 

  • Equipe de trabalho – A formação de equipes de trabalho é um tema cada vez mais recorrente dentro das organizações, pela tendência dos negócios se tornarem mais e mais sofisticados, exigindo que equipes de trabalho sejam constituídas para resolverem situações complexas e muitas vezes ambíguas. Como o RH pode contribuir na identificação de profissionais e composição de equipes específicas de trabalho?

 

  • Desafios pessoais – Os desafios sobram para todas as pessoas! O mais importante é entender a sua natureza. Aqueles relacionados ao conhecimento de novas técnicas, métodos e especialidades são mais fáceis porque podem ser aprendidos. Os mais difíceis são os de caráter emocional, relacionados a modelos mentais que precisam ser modificados. As pessoas vivenciarão uma exaustiva dinâmica de aprender, desaprender e apreender novamente, fortalecendo-se internamente, no seu campo psíquico, buscando aprofundar o seu autoconhecimento e consolidar sua capacidade de entregar resultado, para estarem sincronizadas com as novas realidades que surgirão! Como o RH pode identificar e apoiar os seus profissionais nos desafios que lhes se apresentarão?

 

  • Mobilidade – Paradoxalmente, o que era uma operação muito delicada pode se tornar, graças à experiência do home office, uma empreitada mais fácil e menos custosa de se realizar! Claro, sempre respeitando a natureza do trabalho que será realizado e o objetivo implícito na mobilidade de um profissional. A tecnologia disponível e o aprendizado do home office facilita muito a realização de trabalho a qualquer distância e a participação de especialistas em projetos multifuncionais. Como o RH pode dinamizar o seu programa de mobilidade sintonizando-o com as necessidades do negócio?

 

  • Organização de carreira – A tendência de as carreiras fugirem dos modelos anacrônicos é cada vez mais presente. Hierarquia rígidas estão dando espaços para modelos mais horizontalizados em que predominam as combinações de conhecimentos técnicos, competências de gestão, especialidades e capacidades humanas duradouras que dependendo da matriz de responsabilidades da empresa, posicionará o profissional no seu devido espaço organizacional. Como o RH deve construir os caminhos de carreira e como organizar entre os seus profissionais o conjunto de habilidades, competências, especialidades e comportamentos importantes e necessários à empresa?

 

  • Propósito de vida – o sentido de existir, de pertencer, de ser útil, de adicionar valor à sociedade, de superar a si próprio e viver o sentido da vida! Todos nós somos seres holísticos em busca da compreensão integral dos fenômenos que afetam nossas vidas. Conhecimentos que antes eram exclusivos de investigação intelectual hoje se constituem em uma cadeia de ideias que direciona os acontecimentos e cria novas perspetivas. Como o RH pode captar estes sentimentos latentes nas almas das pessoas e ajudá-las a vivenciá-los no ambiente organizacional?

 

  • Redes sociais – A conectividade entre as pessoas será cada vez mais desafiante. Com a liberação do 5G, a nossa sociedade se tornará 5.0 e, a partir desse momento, vivenciaremos um oceano de possibilidades sem precedentes, que influenciará significativamente as vidas de todas as pessoas. Como o RH preparará as empresas e seus profissionais a viverem esta conectividade e se beneficiarem de suas possibilidades?

 

  • Sucessão – Os mais variados métodos existentes e utilizados na organização das políticas de sucessão serão, de alguma forma, encapsulados por tecnologia e apoiados por sistemas mais complexos de identificação de personalidade, como o Eneagrama, e de pré-disposição para a motivação, comunicação e ação, como o Vitalidade. Este complexo de informações terá suporte da inteligência artificial na identificação e indicação dos principais candidatos à sucessão. Como o RH irá se preparar para trabalhar com esses sistemas mais sofisticados de identificação de personalidades e desenvolver mecanismos mais precisos para sustentar os processos de sucessão?

 

  • Responsabilidade social – Hoje, com um relativo grau de liberdade, podemos verificar facilmente que as pessoas não pensam do mesmo modo, e, portanto, entendem os acontecimentos ao seu redor de maneira diferente. Tanto a formação, como seu viés, ocorre de forma particular ou por combinação de temas vivenciados pelos indivíduos tais como: ambiente cultural, local de nascimento, família, religião, educação, interação com amigos, sociedade, abrangência de conhecimento e a percepção de si no mundo.

 

A análise de se levar uma vida virtuosa, justa e feliz, e como devemos nos comportar para alcançá-la constituem a base do ramo da filosofia conhecido como ética ou filosofia moral.  

 

Para se entender melhor a ética e a moral, temos que associá-las a outros temas como valor e liberdade de escolha, isto porque a base da sua dinâmica está no relacionamento entre as pessoas, que no seu convívio diário fazem suas escolhas considerando os valores pessoais e comuns da sociedade. Como o RH irá incentivar a vivência em um assunto tão sensível como ética, ainda mais nos tempos em que estamos vivendo, onde o caos se posicionou de forma a potencializar as mazelas humanas e obliterar nossa visão sobre o que bom ou não para a sociedade?

 

  • Liderança – A maioria dos líderes não apresenta uma complexidade mental autoconsciência suficientemente capaz de acompanhar a complexidade do mundo. A melhor forma de se diminuir esta distância é vivenciar simultaneamente a, a consciência da equipe e a consciência da comunidade.

 

Um líder consciente entende que pessoas e situações só podem crescer e produzir se houver condições saudáveis de trabalho.

 

Devido aos níveis crescentes de complexidade, nenhuma pessoa é inteligente o suficiente para tomar todas as decisões. A inteligência coletiva precisa ser desenvolvida e acessada de forma que respostas certas possam ser encontradas para os enormes desafios. Como o RH pode apoiar o desenvolvimento dos seus líderes considerando uma perspectiva mais abrangente de vivência que supera os próprios limites da organização?

 

  • Diálogo – O diálogo, como o conhecemos, está mudando rapidamente em termos de linguagem, formato, conteúdo, frequência e público! Imenso desafio! Já não se fala ou se comunica pelos meios mais clássicos! Hoje existem miríades de possibilidades! As comunicações têm cores, imagens, emojis, storytelling, vídeos, podcasts, business intelligence, YouTube, Instagram, Facebook, TAD, inbound marketing e um sem-número de novidades disponíveis todos os dias. O mais interessante é a renovação ou inovação de significados. Muitas palavras ficaram desgastadas com o seu uso indevido e hoje carregam o peso contrário do seu significado original e precisam ser renovadas ou renomeadas. Como o RH pode criar uma linguagem corporativa, que além de contribuir para o fortalecimento de sua cultura, crie também uma identidade em que cabem todos os seus profissionais?

 

O tema de repensar o ambiente é mais um desafio endereçado para a área de RH, além de tantos outros! Como construir um local de trabalho que incentive o relacionamento apreciativo entre as pessoas e lhes tragam o benefício de viverem novas e determinantes experiências, quando o impacto causado pela pandemia exige o distanciamento social e a realização do trabalho em home office, que tem como principal característica o trabalho solitário?

As respostas, sem dúvida, virão! Porém, não todas de uma vez! Enquanto as empresas se adequam às novas realidades reconstruindo suas culturas, é imperativo que elas não percam de vista o condutor mestre do que é importante para o sucesso do empreendimento.

De tudo, uma certeza: as empresas terão que assumir a sondagem periódica da saúde mental dos seus colaboradores, não apenas para ajudá-los a se adaptarem ao novo estilo de trabalho, mas, inclusive, assessorá-los a se autoconhecerem e receberem elementos que lhes permitam obter respostas interiores para viverem e sustentarem as novas realidades que estão emergindo!

Vicente Picarelli

Sócio Diretor na Picarelli Human Consulting

Vicente Picarelli – Foto Divulgação

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