“Eu” - Uma Fantástica Máquina de Pensar e Criar

Certa vez, quando eu estava em busca das minhas verdades, fiz uma viagem para dentro de mim mesmo para conhecer, de fato, quais eram e até onde iam os limites que me foram impostos pela minha família, escola, religião e sociedade.

Minha busca baseava-se no fato de eu não entender por que não conseguia ultrapassar tais limites e principalmente saber o que havia depois deles.

Com coragem e determinação, eu os enfrentei aprofundando-me através das camadas de atenção e percepção que ao longo dos anos foram sendo construídas desde as mais superficiais, em que se encontram as coisas práticas do dia a dia, até as mais profundas onde residem os fundamentos que regem minha vida.

Iniciei a viagem que não foi fácil e tampouco rápida. Depois de certo ponto, perdi a nitidez das coisas e entrei num enorme labirinto sem, contudo ter comigo o fio de Ariadne que poderia me trazer de volta à superfície como ocorreu com Teseu em seu encontro com o Minotauro.

Foi uma viagem através de caminhos feitos de neurônios, sinapses e glias, em meio a uma miríade de mensagens que se multiplicavam e se deslocavam a uma velocidade espantosa.

Eu me movia mais lentamente, mas podia ver um sem número de informações transitando por essas estradas que alteravam o seu formato e percurso dependendo da força da emoção que tais informações transmitiam. Era pura dinâmica, ideias que se tornavam realidades, medos que bloqueavam iniciativas, descargas elétricas de motivação e tormentas de desilusão. Que mundo estranho! Um universo cheio de possibilidades com capacidade de criar muitas realidades.

Ao ver esse universo dentro de mim quis conhecê-lo sob uma perspectiva de liberdade viva e consciente. Essa minha vontade foi como uma epifania, de repente eu obtive o controle deste fluxo incessante de informações e pude me dirigir ao âmago de minha existência em que estava gravada a essência do meu ser.

Ao chegar ao meu íntimo, vi que os fundamentos que sustentavam a minha existência eram constituídos de elementos, tais quais pequenos blocos, que no seu conjunto formavam a base de tudo o que eu era ou poderia ser. Qual não foi a minha surpresa ao deparar-me com uma frase que me deixou estupefato, em um deles estava escrito: “com o amor de seu pai”. Intrigado, me abaixei para ler os detalhes do bloco e percebi que eram as primeiras orientações de vida que meu pai havia me dado quando eu ainda era um menino para que eu crescesse um homem decente e feliz. Como eu pude esquecer?

Outro bloco ao lado dizia, “com o amor de sua mãe” – e senti novamente o carinho que me nutriu, a mão que me deu segurança, o olhar que me deu a certeza de que eu era amado e que nunca estaria sozinho.

Vi outro, ainda, onde estava escrito, “com o amor de seus irmãos” – e lembrei-me da camaradagem, dos valores compartilhados, da alegre convivência de todos os grandes momentos em família.

Eram muitos os blocos e eles estavam como organizados em uma espécie de linha do tempo refletindo os meus primeiros anos de vida. Ainda vi outros que diziam:

“Com o amor de sua Igreja” – que me mostrou a minha origem, minha missão neste mundo e me apresentou ao meu Creador.

“Com o amor de sua família” – que me ensinou a beleza da coletividade, a importância da comunidade e o segredo da solidariedade.

“Com o amor de sua primeira professora” – que além de me alfabetizar me deixou como legado a vontade de aprender sempre.

“Com o amor dos seus amigos” – com quem aprendi a sentir a força da amizade, a viver grandes aventuras, a não fazer diferença do possível e do impossível e de perceber a grandeza das pessoas.

Outro bloco, um dos maiores, me chamou à atenção pelo título “com o amor do Seu Creador” e dizia: EU o trouxe a este mundo para que você se aperfeiçoe. Serão muitos os desafios na sua vida, mas o mais difícil deles é você vencer a si mesmo, por isso EU lhe dou de presente o seu pai, a sua mãe, a sua família e os seus amigos. A sua companheira, filhos e netos completarão sua vida, porque todas estas pessoas que EU coloco em sua existência serão o refúgio necessário em que você encontrará as forças para vencer. Quanto à Igreja, EU SOU sua Igreja e você ME encontrará na pessoa do outro e em todos os lugares.

Parei por um instante e o tempo não se moveu, não havia nem passado e nem futuro era um eterno presente. Pus-me a pensar. Se a base da minha vida foi toda ela construída para o meu máximo benefício, por que as dúvidas agora? Onde e quando perdi a conexão? O que alterou minha percepção? Não obtive resposta.

Foi então que comecei a empreender a viagem de volta pela mesma estrada na qual eu já passara e à medida que eu avançava ia vendo quantas ilusões, medos e conceitos errôneos que eu havia criado e que ainda viviam dentro de mim. Como uma segunda epifania, percebi claramente que a minha mente trazia à vida, ou seja, para a minha realidade, exatamente o que eu pensava e sentia. A simplicidade da descoberta era tão grande que eu até sentia vergonha por não ter percebido antes. Quanto tempo desperdiçado e energia gasta dando vida a medos e ilusões quando eu poderia ter criado um mundo ao meu redor muito melhor e mais feliz!

Resolvi, então, conhecer melhor esta força criativa dentro de mim e entendi que o cérebro armazena todos os tipos de acontecimentos que ocorrem em nossas vidas tendo por objetivo criar padrões e referências que nos mantenham vivos; e, sob o comando da mente ele direciona ao universo as vibrações inerentes aos nossos pensamentos e sentimentos fazendo com que a ideia original, ou vontade, se torne uma realidade objetiva.

Hoje, com a busca do autoconhecimento, entendi que a partir do momento em que o ser humano sai do seu ambiente restrito e seguro e entra na imensidão do mundo, ele é influenciado por toda sorte de acontecimentos e não percebe que paulatinamente vai aceitando como grandes verdades muito do que ouve, vê, experimenta ou lê, mudando o seu destino sem perceber.

Nossas vidas, de certa forma, são uma sequência de ações e reações. Se temos consciência de como funciona a mente, poderemos resistir a muitas ações e melhorar a qualidade de nossas vidas por enfrentar menos reações.

Portanto, como diziam os sábios, uma vez que você não pode voltar ao passado e ter um novo começo, você pode mudar o presente e ter um fim que você mesmo escolheu. Ser o dono do seu próprio destino não só é possível como desejável. Compreender esta simples equação “Pensamento + Sentimento = Realidade Objetiva” pode fazer com que cada um nós seja senhor do seu próprio mundo.

 

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Vicente Picarelli

Sócio Diretor na Picarelli Human Consulting

Vicente Picarelli – Foto Divulgação

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