Empoderamento: da Empresa para o Nosso Dia a Dia

Tenho observado que muitos termos, há tempos utilizados no ambiente corporativo, têm migrado para o uso comum do nosso dia a dia. É o caso de “empatia” (hoje, é até tema de redação do ENEM), “resiliência” (que as empresas já tinham tomado emprestado da Física) e coach(tradução para técnico de futebol e mal traduzido pelos jogadores por “professor”) que foi vulgarizado em cursos, que conferem diplomas para atuação em áreas, que vão desde carreira, finanças, liderança até família, relacionamento, emagrecimento, sucesso/fracasso etc. Confundindo-se, muitas vezes, com terapeuta, consultor e conselheiro.

Foi lá, pelos anos 1990, que tive meu melhor entendimento do termo Empowerment, trazido, em palestra, pelo professor de Administração de Harvard Daniel Quinn Mills, autor do livro Empowerment – um imperativo (Ed. Campus, 1996). Na época, por falta de uma palavra “dicionarizada”, que traduzisse a expressão, passou-se erroneamente a utilizá-la como “delegação de poder”. Começamos a adotar o neologismo natural “empoderamento”, hoje super utilizado na boca do povo (“empoderamento feminino”, “empoderamento das minorias” etc.).

Fiz até um pequeno texto em meu blog , explicitando o significado e a aplicação do termo na organização.

Empowerment  é “tomada de poder”?

Sem qualquer conotação subversiva, apenas com base na melhor tradução do termo, empoderamento é “assunção de poder” , “tomada de poder”.

A pessoa que “se empodera” toma poder para si, assume  poder. Apelando para a velha gramática: o verbo “empoderar-se” é pronominal, com ação reflexiva do pronome. Deveria ser conjugado assim: eu me empodero, tu te empoderas, ele se empodera…

Fica claro, portanto, que não há outro “sujeito” empoderando alguém, delegando-lhe poder. Talvez pelo ranço dos chefes, que relutam em compartilhar nacos de poder com os “subordinados”, a tradução por “delegar poder” lhes caísse melhor, preservando a pretensa “supremacia” deles sobre os “subordinados”.

Este neologismo surge exatamente no bojo dos conceitos da “nova empresa” na  “era do conhecimento”, em que se flexibilizam as estruturas, se valoriza o trabalho em equipe;  época em que chefe dá lugar a líder, se busca significado no trabalho, e o poder advindo do conhecimento – cada vez mais acessível – credencia uma pessoa a exercer liderança, mesmo sem ocupar “cargo de chefia”.

Assim entendo Empowerment: o indivíduo vai ampliando seus conhecimentos e chama para si a responsabilidade de liderar (mesmo que circunstancialmente), colocando-se como a pessoa que melhor domina determinados assuntos. Isso lhe confere poder.

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