Outro dia, em um restaurante, ouvi a conversa de dois colegas de trabalho sentados na mesa, ao lado: o Home e a Office. Após alguns minutos, fiquei confuso e na dúvida com a conversa entre eles. Foi assim:

– Sempre me acharam limitado e meio preguiçoso – dizia o Home. Muitos me  questionam sobre meu tempo dedicado ao trabalho e minha produtividade. Às vezes, dizem que não trabalho bem, que não tenho disciplina, e que me falta foco. Por outro lado,  estar mais tempo, perto da esposa, dos filhos e do cachorro; isso sempre foi muito legal! Felicidade total, qualidade de vida: e tudo isso sempre me fez bem. Família é tudo! É minha prioridade sempre! Bom demais! Imagina só…eu fico em casa, acordo mais tarde, estou perto de quem eu mais gosto… Ah! Eu não tenho que me vestir, pegar ônibus, trem ou UBER, e ficar horas no transito! Isso é que é vida! Aquela qualidade de vida que todos sonham.

A Office ouviu bem o Home e começou a mostrar o lado dela:

– Entendi seu lado, Home. Mas assim, você vai estar distante de onde tudo acontece; jamais será o preferido da “mamãe empresa”. E dos chefes. Eu, Office, em geral, estou sempre na hora, trabalhando, o dia todo. Faço horas extras, e muitas vezes, sem perceber e nem receber! Toda atenção no trabalho, e com frequência, feliz. Eu estou sempre concentrada, focada nas minhas metas e todos me acham muito produtiva. Junto com meus colegas de trabalho, somos um verdadeiro time: as reuniões são  ótimas, muita conversa, e um bom papo. Um “perfeito” trabalho em equipe! Almoçamos juntos e esta socialização é muito construtiva, positiva e me faz bem! A proximidade dos colegas me torna mais humana. Eu sempre digo: cada coisa no seu lugar. Na empresa, trabalho, e em casa, família e lazer! Não dá para misturar o tempo todo; marido, filhos e cachorro.

O Home, interrompeu e disse:

– A vida é mais flexível pra mim, tenho mais liberdade, mais tranquilidade, e estar em casa, faz bem pra saúde familiar.

A Office retrucou na hora:

– Nada disso: sua casa é sua prisão invisível ! O cenário na sua frente: todo dia, sua esposa, criança ora brincando, ora chorando, e o cachorro feliz, grudado todo tempo em você e com o rabinho balançando… Isso é coisa de doido!

O Home comentou:

– Não é bem assim. As únicas coisas que às vezes não estão bem são minha internet, as dificuldades de acesso aos sistemas de trabalho e a quantidade de reuniões virtuais! Isso atrapalha!

O Home ainda falou:

– Você, Office, tem o chefe no seu pé o tempo todo, fungando no seu pescoço; uma pressão diária de doer! Além disso, junto com os colegas de trabalho, tem que conviver com fofocas, gozações, politicagem e preferências e injustiças que acontecem na sua  “cara” e sem poder fazer nada! 

– Não é bem assim Home! -, afirmou a Office. E argumentou: 

– Você sim, é que tem um ambiente complicado: poderia até exigir adicional de periculosidade e insalubridade mental, com o caos  diário que vive em casa. Com certeza, deve ter dias, que você não aguenta ver as mesmas pessoas, filhos, paredes e cachorro. Todo dia de pijama ou bermuda, e a família, ali! Você deve perder toda a sua liberdade pessoal individual: seus defeitos e de sua esposa ficam evidentes, e aumentam em progressão geométrica, dia a dia. Ouvi até dizer que a empresa ofereceu “apoio emocional” e curso para desenvolver habilidades de “gestão de conflitos”. Eu sei que é coisa de RH, mas Home, me desculpe, se precisa de tudo isso, coisa boa não deve ser!

A Office seguiu falando:

– Para mim, nada mudou! Tudo continua como sempre foi: o velho e bom “normal anormal”, e vou tocando a vida! Eu no trabalho, e família, em casa! Honestamente?!? Não é justo você estar em casa e não dar atenção para  sua esposa, filhos e o cachorro!

E arrematou:

– Home, eu continuo tendo meus amigos, almoçamos juntos e, às vezes, nos encontramos no final de semana e continuo fazendo novos amigos. E você? Onde estão seus amigos? Sumiram? Não existem mais? Os laços fortes de amizade se criam na relação “cara a cara”, sem distanciamento social! Vai fazer um churrasco virtual com os seus amigos!? Tenha paciência!

Bem, assim a conversa entre eles seguiu por mais alguns minutos, sem ter claro quem vive e trabalha melhor. O Home defendeu seu lado, e a Office, o dela. Acho que a conversa não teria fim, caso pudessem ficar ali por mais tempo. Eu já estava cansado e sai confuso, com muitas dúvidas!

Ah, e o Cachorro? O Zoom, nome do cachorro…não falaram muito sobre ele. Parece que já não balançava mais o rabo, já não tinha novidades. Todos os dias tudo sempre igual, para o Home e para a Office. Meio esquecido num canto, ele se sentia num “mato sem cachorro!” Não parecia o Zoom!

Afinal, o Home ou a Office? Cada um tem suas características e valorizam tudo ao seu redor de forma diferente. As necessidades, desejos, projetos e valores determinam suas escolhas. Não existe regra e nada vale igualmente para todos! Nem mesmo para o Zoom…

E você? Refletiu, avaliou e concluiu? É mais Home? Mais Office? Ou mais Zoom?

Quem sou eu? Querem mesmo saber?!? E sou o Ponto Final! Fui…