O novo normal não virá e isso é uma oportunidade!
Recentemente, no grupo de líderes empresariais do qual participo na AMCHAM Brasil, temos discutido muito sobre tendências e perspectivas para 2021 sob os pilares da sustentabilidade, da inovação e das pessoas, dentre outros. Como nosso grupo se mostra heterogêneo em termos de áreas de atuação, mas homogêneo em relação ao status de proprietários de pequenas empresas, essas conversas são ricas fontes de melhores práticas.
Todavia, o atual cenário também tem me levado a refletir à luz da psicologia, pois, em última análise, ele nos afeta tanto enquanto pessoas físicas como pessoas jurídicas e, definitivamente, a presença da pandemia de doença por Coronavírus 2019 (Covid-19) com suas ramificações, vem gerando a constante necessidade de que as experiências anteriores tragam algum alento para o futuro de todos nós.
No âmbito da psicologia, o conceito denominado viés de confirmação se refere à tendência de buscarmos evidências que apoiem nossas crenças e que confirmem nossas suposições; trata-se de uma característica prevalente na cognição humana, especialmente em momentos nos quais precisamos entender o mundo ao nosso redor.
Em contraponto ao viés de confirmação, o psicólogo Ben Tappin sugeriu que nosso maior inimigo em tempos de crise talvez se encontre no chamado viés de desejabilidade, uma vez que, em geral, as crenças passadas e os desejos futuros são resultados distorcidos da busca de confirmação, mesmo quando tais crenças passadas e desejos futuros se tornam incongruentes ‒ nesse caso, invariavelmente o desejo acaba vencendo.
Daniel Kahneman nos ajuda a entender esse autoengano quando ao mostrar como o cérebro humano teme mais as perdas do que as conquistas, uma vez que as experiências negativas são muito mais marcantes do que as positivas.
Ben Tappin acredita que, na maioria das vezes, quando nossas experiências anteriores reforçam um aspecto de nossa crença e seu desejo futuro, uma coisa se combina à outra. Assim, se já superamos inúmeras crises no Brasil, apesar de toda a dimensão da atual, em um futuro (não tão distante) as coisas voltariam ao “normal” ‒ concedemos até que este viria a ser um “novo normal”.
Entretanto, pessoalmente, eu não acredito que isso seja possível ou sequer desejável. Explico.
Em recente post, o jornalista Pepe Escobar questiona como podemos evitar essa armadilha recorrendo ao filósofo estoico Epicteto, que distingue as coisas que estão sob nosso controle ‒ como nossos pensamentos e desejos ‒ daquelas que não estão ‒ por exemplo, nossos corpos, nossas famílias, nossas propriedades, nosso destino e tudo o que a expansão da Covid-19 vem colocando em xeque.
Se a maioria dos elementos de nossas vidas foi escancarada como algo fora de controle, talvez este seja o momento ideal para adotar novas soluções e novas experiências. Podemos estar diante da “situação mais barata” para darmos um “salto de fé”.
Em recente pesquisa global realizada com mais de 1.400 empresas, enfocando a resiliência e as melhores práticas, a Josh Bersin Academy identificou as quatro fases adotadas pelas organizações de alto desempenho (isto é, que pontuaram 100% nas métricas de saúde e bem-estar) não só para dar continuidade aos seus negócios, mas para impactar o futuro de seus negócios.
Essas quatro fases consistem em quatro estágios de resposta à pandemia implantados:
Creio que a pandemia preparou o terreno para mudarmos e nos tornarmos mais adaptáveis e preparados para rupturas tanto em nossas empresas, independente de seu porte, quanto em nossas vidas pessoais. Que sejamos “antifrágeis”, como definiu Nassim Taleb.
Olhando para a minha empresa e, talvez, para as várias empresas cujos executivos têm contato conosco, é fácil perceber que todos nós adotamos, em menor ou maior escala, as práticas do Estágio 3; mas seria prudente que já estivéssemos enfocando o Estágio 4, que apresenta boas práticas para qualquer modelo e porte de empresa, aproveitando o momento propício que a pandemia relou, criando a resiliência necessária para superar futuros desafios.