As ondas migratórias ajudam a contar a história da humanidade. Este movimento, que miscigenou o mundo e o fez avançar, tecnicamente é definido como o deslocamento de pessoas entre territórios ou entre regiões.
Existe uma série de impulsionadores para este fenômeno que pode ser de natureza leve. Como é o caso da migração em busca de oportunidade profissional, segurança e estabilidade, por exemplo. E os impulsionadores de naturezas mais graves. Como guerra, fome, desastres naturais e epidemias.
Desde que o mundo é mundo isso acontece. E o denominador comum é a sobrevivência. Vide os nômades, no período neolítico.
Quando a sobrevivência se torna, no entanto, impraticável e essas pessoas são quase que compulsoriamente levadas a deixar seus países é que se adota o termo refugiado. E, talvez, por isso nunca ouvimos falar tanto em refugiados como nesses últimos anos. A eclosão da Guerra da Síria, por exemplo, trouxe ainda mais visibilidade ao termo.
Ao todo, hoje, o mundo tem quase 80 milhões de pessoas em situações de deslocamento interno e de refúgio, segundo relatório “Tendências Globais”, das Nações Unidas. É o equivalente à população inteira da Alemanha. E a ACNUR – Agência da ONU para Refugiados – estipula que pelo menos 30 milhões sejam crianças.
No Brasil, temos 32 mil refugiados, segundo dados do CONARE (Comitê Nacional Para Refugiados). Sendo a maior parte das nacionalidades síria, congolesa e venezuelana.
Muito mais do que números, é uma questão humanitária. Portanto, é preciso ir além dessas estatísticas e trazer esse desafio para uma dimensão de responsabilidade social em nível global.
Pessoas nessa situação, além de terem de lidar com a dor de abandonar suas casas em nome de tentar proteger a própria vida, ainda lidam com os riscos deste deslocamento. Entre 2014 e 2020, mais de 20 mil pessoas morreram na tentativa de atravessar o mediterrâneo, por exemplo – uma das principais rotas para refugiados que vêm do Médio Oriente.
E mesmo aquelas que conseguem chegar a outro território, ainda precisam lidar com todas as burocracias e limitações para se estabelecer, com muitos países dando as costas e fechando as fronteiras. A própria ONU, em 2018, quando houve um “boom” de nações fechando as fronteiras para impedir a entrada de refugiados, pediu para que os países revissem suas políticas de resgate em vigor.
Neste contexto, é muito importante uma iniciativa como a da ACNUR, que há mais de dez anos faz um trabalho impecável de apoio aos refugiados com seus mais de 460 escritórios pelo mundo que atende mais de 67 milhões de pessoas nesta situação.
Nós, aqui, Bradesco apoiamos a ACNUR. Inclusive, no Fórum Econômico Mundial de 2020, em Davos, nos encontramos com outros apoiadores para discutir a inclusão econômica dos refugiados nas comunidades que as acolhem. Temos noção de que há muito a ser feito ainda, mas me sinto mais esperançosa ao saber que o Brasil tem um papel pioneiro de liderança na proteção internacional dos refugiados.
Às vezes tento me imaginar em um mundo sem barreiras. Estas barreiras que os próprios seres humanos criaram. Onde realmente fossemos tratados como a única espécie que somos. Um pouco como John Lennon tentou dizer na letra de Imagine: “imagine que não há países, não é difícil de imaginar, nada para matar ou morrer…”.
Imagine there’s no countries
It isn’t hard to do
Nothing to kill or die for
Como diria o professor Yuval Harari, mesmo que tenhamos hoje aparência e línguas distintas, somos da mesma espécie: homo sapiens. Se nos olhássemos somente como seres humanos e continuássemos nos misturando e nos acolhendo conseguiríamos, provavelmente, construir uma história mais bonita sobre essa humanidade que habita o mesmo espaço: a Terra. A casa de todos.
E seríamos mais como a água, que pode correr por toda parte.