Tempos de resiliência

Uma das minhas atividades é atender executivos em transição de carreira, então imaginem o quanto estou trabalhando com esta elevada taxa de desemprego no Brasil. 

Além das dificuldades normais de mercado, que temos enfrentado devido à crise econômica mundial, percebo um sintoma nefasto que está presente na grande maioria das pessoas que tenho atendido. 

Relatos e indagações do tipo “estou ultrapassado”, “será que ainda há lugar para mim”, “estou há mais de um ano buscando um novo emprego”, “será que alguém sequer leu meu currículo”, “o que eu estou fazendo de errado” e “me sinto um ninguém” são frequentes e neste artigo eu gostaria de poder contribuir para aliviar este sentimento de impotência, incapacidade e inferioridade que anda rondando estas mentes.

Vamos raciocinar sobre fatos, meu argumento preferido. Livres de tanta subjetividade, os fatos costumam ser eficazes para desfazer crenças que nos fazem acreditar que tudo na vida é pessoal, direcionado a nós mesmos.

Muito sucintamente podemos dizer que: 

  • O Brasil está com 14% de desemprego, infeliz recorde histórico do qual ninguém se orgulha 
  • Com a pandemia, há piora constante em todos os indicadores econômicos 
  • Todas as empresas há mais de cinco anos estão operando com redução de custos constante 
  • Estamos vivendo uma época em que humanos estão sendo substituídos por máquinas e processos mais eficientes 
  • O consumo foi reduzido drasticamente, o que faz com que as indústrias e empresas de serviços também produzam e vendam menos, logo, são menos empregos.   Com menos empregos e menos dinheiro circulando no mercado, novamente a roda do consumo trava e afetando as empresas que já estavam operando em redução de custos 
  • O governo e a previdência social são duas entidades ineficientes, logo não conseguem dar suporte e dignidade aos cidadãos para manter um mínimo de consumo além da precária alimentação da população carente. 

 

Com este cenário desolador, o mercado de trabalho está sobrecarregado de profissionais buscando novas colocações. Os empregos existentes estão concentrados em algumas áreas onde inclusive falta mão de obra qualificada como a área de TI e Saúde. Os demais profissionais disputam palmo a palmo os processos seletivos abertos.

Aliás neste sentido, simples consulta no LinkedIn em qualquer vaga aberta nos fará encontrar um número acima de mil candidatos para vagas, o que contribui ainda mais para o desânimo de quem busca um novo emprego.

Fatos colocados vamos a algumas reflexões: 

  • Exemplificativamente, destes mil candidatos, algo em torno de 10%, ou seja, 100 pessoas atendem minimamente os requisitos da vaga. Destes 100, algo em torno de 30% estão mais aderentes ao perfil, então estamos falando de um processo que tem em média 30 candidatos e não mil. Lembrando que a inscrição em vagas é livre o que faz saltar estes números 
  • Para uma vaga de nível Gerencial, inscrevem-se aqueles que são Diretores e aceitam fazer um downgrade, inscrevem-se os que são gerentes e se inscrevem Especialistas e Coordenadores que buscam upgrade na carreira. Vemos, então, para as empresas contratantes um cenário muito favorável para contratação, o que faz os processos seletivos se arrastarem por mais tempo pois há várias análises a serem feitas. Algumas destas análises são: pagar menos, contratar um Coordenador e desenvolvê-lo. Pagar um salário de Gerente, contratar um Diretor mesmo que ele não fique por muito tempo, porém, poderei ter vários problemas resolvidos com alguém mais sênior 
  • É humanamente impossível dar feedbacks individualizados para este volume de  candidatos inscritos, por este motivo a maioria das empresas usa feedbacks eletrônicos de aprovação ou reprovação em processos seletivos.  

 

Assim sendo, nem todo mundo está ultrapassado, nem todos estão fazendo algo errado, os bons recrutadores leem a maioria dos currículos recebidos e é impossível recebermos um feedback em processo que nos diga que não passamos por um motivo específico. Trata-se simplesmente de um contexto bastante desafiador que está afetando a recolocação da maioria dos profissionais no Brasil. 

Já conhecemos o problema, quais são possíveis soluções para enfrentá-los? 

Primeiramente, entender objetivamente o contexto que estamos vivendo, ou seja, a relação vaga versus candidatos, a disputa entre níveis hierárquicos e os feedbacks eletrônicos. 

Uma vez entendido o contexto, resta enfrentarmos as nossas próprias inseguranças, sejam elas de ordem financeira, pessoal ou profissional. Claro que teremos dias trevosos, de desânimo e desesperança. Mas é importante acordar e encontrar forças para nos aprimorarmos profissionalmente, fazermos contatos, inscrições em vagas e sobretudo pensarmos sobre quais seriam outras opções de recolocação. 

Ler é fundamental, entender o que está acontecendo à nossa volta, como as pessoas estão se movimentando, encontrando soluções e então poderemos encontrar caminhos. 

São tempos de resiliência sem dúvida, mas eles também passarão. 

Acredite! 

Luciana Tegon

Headhunter e Coach – Especialista em Carreira

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